Pau-a-pique: a casa que brota do chão

Bruno Brito
2 min readOct 22, 2023

Como se a casa brotasse do chão, as construções de pau-a-pique ou taipa-de-mão, como também são conhecidas, são como extensões do corpo daqueles que a levantaram.

Pau, terra, fibra, cipó, água e gente. Essa é a receita base para uma edificação como essa, há anos feita no Brasil e no mundo. Seja no sertão ou no litoral, tal técnica se faz presente de maneira unânime entre muitas populações rurais, que são construtoras por natureza.

Na pequena receita descrita acima há um “ingrediente” crucial na massa: a “gente”, que é o povo e suas mãos. Ingrediente humano este que já carrega consigo o próprio “modo de fazer” em sua memória coletiva. De avôs para pais e de pais para filhos é transmitido o receituário construtivo dessas comunidades que vivem numa espécie de simbiose com o meio e, portanto, a matéria prima da vida.

Se a epiderme nos envolve e nossas roupas são como nossa segunda camada protetiva, as paredes da casa são, então, nossa terceira pele, como bem sistematizou o artista Hundertwasser no desenho abaixo. Depois da casa, segundo o austríaco, vem o tecido social-cultural e em quinto lugar, a própria biosfera que nos rodeia.

No pau-a-pique, vemos a feliz congregação das “cinco peles” durante o mutirão: a mão na terra que o barranco deu, a reunião de amigos e familiares, a festa, a comida e a indumentária para celebrar a parede que se erigiu sobre o próprio chão que a gerou.

Na foto, uma parede registrada na Praia do Iriri, uma aldeia Pataxó em Paraty — RJ.
Esquema proposto por Hundertwasser sobre as cinco peles.

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