Gameleira-Branca
A primeira vez que ouvi essa essa música de Paulo César Pinheiro, e interpretada por Glória Bonfim, foi por conta de um vídeo do amigo MC Ralph (@oterrivelladraodeloops), que comentava a respeito da construção da letra e do sistema de rimas.
De maneira curiosa, Paulo faz uma introdução com duas rimas mais acentuadas de finais Ê e Ô, entremeada por 2 palavras menos tônicas: “entrada” e “sagrada”, estas, secundárias na estrofe, porém, significativas na formação da rima e da cadência rítmica.
Num segundo momento, o letrista parte para uma quadra constituída por 2 rimas terminadas em “ença” e “anca”.
Em seguida, complexifica a terceira estrofe com uma rima de 3 “eiras”, e adiciona uma palavra solta ao fim: “Aurélio”, que só vai fazer sentido com o último vocábulo da última estrofe (de mesma estrutura), que é “velho”.
Não sei ao certo o que isso significa, nem as possíveis origens e influências de tal estrutura musical. Mas, ao fazer o exercício de esquematizar a letra em imagem (cor e linha), — como já tinha esboçado o amigo Ralph — torna-se clara a a perspicácia do compositor ao estruturar tal canção, que, ao meu ver, também a pensou como um desenho.
Concluo, portanto, que talvez os cantores e instrumentistas de ouvidos afiados ouçam com naturalidade a música assim: com os olhos.