Gamela Multiuso

Bruno Brito
2 min readOct 22, 2023

A gamela de madeira parece encontrar lugar de destaque por toda a zona rural do Vale do Paraíba e seus arredores, como no Litoral, na Bocaina e na Mantiqueira.

Frequentemente produzida a partir das Gameleiras, um conjunto de árvores do gênero Ficus, as gamelas são como bacias escavadas na madeira, a fim de armazenarem os mais variados tipos de materiais, inclusive líquidos.

Do ponto de vista formal, a gamela está entre o pilão e a canoa.

Para além do material empregado e a forma côncava dos três objetos, todos eles estão ligados, de alguma forma, à esfera da alimentação. A embarcação para pescar, o pilão para apiloar e a gamela para dar o suporte necessário na faina da cozinha: transportar carnes, espigas, grãos, ovos, frutas e, no caso de processos mais complexos, deixar de molho elementos que precisam dessalgar, fermentar ou mesmo aguardar por algum procedimento posterior. Sobre este último uso, muitas vezes em contato com a água, a gamela é fielmente empregada no feitio da farinha de milho e de mandioca, a primeira no serra-acima e a segunda na serra-abaixo.

Se por um lado as casas-de-farinha caipiras e caiçaras destinam-se para o beneficiamento de um único produto da terra — o milho ou a mandioca — (salvo exceções em que se trabalham os dois), ao contrário, a gamela parece ser um denominador comum cultural e protagoniza em ambos territórios para ambos insumos.

Ao ocupar o espaço entre o pilão e a canoa, a gamela é um fenômeno onipresente entre os lavradores da terra e os “camponeses do mar”, como bem descreveu os caiçaras pelo professor Antonio Carlos Diegues.

Na foto, Seu Preá com suas gamelas de caixeta no Saco do Mamanguá.

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